NOTA DO AMORJ – UFRJ

Postado por espindolathays em 16/abr/2020 - Sem Comentários

Memória da classe trabalhadora em tempos de Covid-19: perdas e lutas

O Arquivo de Memória Operária do Rio de Janeiro-AMORJ, da universidade pública federal UFRJ, possui em seu acervo inúmeros testemunhos das condições de vida e trabalho, da resistência e das lutas da classe trabalhadora – em todas suas dimensões de gênero, raça e etnia. Documentos e fotos, relatos e cartas, livros, jornais e revistas, panfletos e cartazes que contam, em diferentes linguagens, as trajetórias de perdas e ganhos de indivíduos e grupos, na tentativa de garantir sua subsistência e sua dignidade como trabalhadoras/es e cidadãs/ãos.
 
Neste momento de crise sanitária e política, em que se avolumam os casos de infecção e as mortes pela pandemia do Corona Vírus, no Brasil e no mundo, e em que tantos estão ameaçados em sua vida, seu emprego, seu salário, suas fontes alternativas de renda, que memória está sendo construída ? Que experiência de trabalho mulheres e homens compartilham e sob que condições de segurança e proteção contra a doença ? Como se relacionam com seus patrões ?  Como resistem no cotidiano e junto com o sindicato ? E como veem o papel do Estado, dos governos federal, estaduais, municipais ? E a função da Justiça e do Ministério Público do Trabalho ?
 
Essas e tantas outras questões devem e podem vir a constituir uma agenda futura de pesquisa, mas de toda forma vão estar indelevelmente marcadas na memória trabalhadora, e produzirão registros que nos lembrarão para sempre destes tempos. Tristes tempos de incerteza e dor, mas também de resistência, solidariedade e luta.
 
Frente à indiferença de muitos patrões, que se manifesta no desinteresse pela segurança dos que estão trabalhando, nas estratégias perversas de suspensão do emprego ou do salário, na negação dos benefícios devidos; frente aos embates formais entre os poderes executivo, legislativo e judiciário da república, sobre como diminuir os direitos trabalhistas que ainda restam, ou os salários, para “resguardar a economia”; frente às orientações contraditórias das autoridades públicas centrais sobre como proteger suas vidas e as de suas famílias, respeitando ou ignorando  o conhecimento científico; frente à burocratização na distribuição urgente de auxílios aos mais necessitados, trabalhadoras/ es vão se movimentando e atravessando os períodos mais perigosos da pandemia.
 
Para isso tem contado (e precisam contar) com sindicatos atuantes que estão apoiando e representando suas categorias. Negociam com as empresas, protegem trabalhadoras/es de formais a mais precárias/os  e mesmo desempregadas/os, apelam ao Ministério Público e à Justiça do Trabalho, muitas vezes com sucesso.

A par disso, o Dieese, as centrais sindicais, alguns partidos; as associações, grupos e redes de estudiosos do trabalho e de juízes do trabalho e outros operadores  do direito; setores da imprensa, intelectuais e artistas, etc, tem manifestado, por meio de atos, textos e menções, seu apoio aos trabalhadores. 
 
É a memória de tudo isso que, mais tarde, o AMORJ vai coletar, receber, analisar, organizar e disponibilizar para a consulta e o debate públicos. Fica a certeza de que essa memória, reverenciando aqueles que tombarem nesse processo, resgatará e evidenciará mais uma vez as profundas desigualdades de nossa sociedade e a exacerbação dos conflitos de classe que caracteriza a atual etapa neoliberal do capitalismo. Mas ela deverá alimentar também, em grande parte, as lutas futuras dos trabalhadores por um mundo mais justo e igualitário.
 
PS: Para contribuir com a coleta da memória pelo AMORJ, guardem e enviem-nos relatos orais, fotografias, vídeos e textos sobre a experiência e as estratégias de resistência e luta desses tempos (amorj@ifcs.ufrj.br ou amorjufrj@gmail.com).

Equipe do AMORJ: Elina Pessanha, Marco Aurélio Santana, Rodrigo Guedes, Anita Prestes, Monica Paranhos, Maria Cristina Rodrigues, Luisa Pereira, Marcia Barroso, Alexandre Fraga. Colaboradoras: Karen Artur, Marcela Araújo Silva e Juliana Marques.

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